domingo, 25 de novembro de 2012

Por que os brasileiros não querem uma sociedade baseada na meritocracia?



    Essa semana, vi o movimento “contra-cotas” se manifestar ao exaltar a posse de Joaquim Barbosa como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Um homem negro e pobre, que não foi beneficiado por nenhuma política de cotas. Rapidamente, os “pro-cotas” manifestaram-se chamando o movimento de “burguês”, de “revolta da classe média”.
   Sou filha de pobres (um soldador e uma dona-de-casa), mas nunca fiz da minha situação social muleta para conquistar o que eu queria. Conheço várias pessoas da minha geração que, assim como eu, venceram por mérito. Na época, não havia ProUni nem política de cotas raciais.  Mas sempre houve janelas para quem quis mudar o roteiro da sua vida.  Não vou dizer que o caminho foi fácil, mas as oportunidades sempre estiveram lá.
   Sim, era preciso ir contra um sistema excludente. Era preciso estudar sozinho em casa, pois os alunos dos colégios particulares eram melhores preparados. Sim, era preciso ler livros em bibliotecas públicas, enquanto os filhos dos ricos ganhavam livros de presente dos pais. Era preciso entender de cultura lendo os exemplares das revistas assinadas pelo colégio, enquanto os filhos dos ricos tinham várias assinaturas à disposição deles.
   Realmente, as coisas mudaram. E eu fico feliz por isso. Fico feliz por saber que há mais vagas no ensino superior, há mais pobres nas universidades e nas faculdades. No entanto, o que me faz ser contra a política de cotas é que ela reforça um preconceito. É como se, sem elas, um pobre ou negro não tivesse condições de “construir uma carreira de sucesso”, “de estudar numa universidade pública”.
   Além disso, o ProUni, por exemplo, preenche a lacuna de dar acesso ao ensino superior , mas não garante que esse aluno sairá de lá um profissional qualificado. E isso não é culpa de quem é beneficiado pelo programa. Afinal, grande parte das pessoas que termina o Ensino Médio não sabe, ao menos, ler e escrever corretamente. E essa é a minha grande tese: só haverá justiça social no Brasil se melhorarmos a educação como um todo.
   Mais do que dar acesso aos alunos de escolas públicas a faculdades particulares, é preciso melhorar o ensino público. Isso significa melhorar o ensino infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. É preciso valorizar a carreira de professor, dar condições de trabalho a essas pessoas que têm uma responsabilidade tão grande nas costas. Nossos professores não são ruins. Eles são muito bem preparados. Eles saem da universidade com todo um idealismo, sonhando em dar a sua contribuição para uma educação melhor no Brasil. Quando entram em sala de aula, eles têm que encarar turmas abarrotadas de alunos, crianças que só vão para aula para receber o benefício do “Bolsa Família”, um programa educacional pouco atrativo e muitas cobranças. Cobrança para “fazer mais com menos”, cobrança para não reprovar os alunos e cobrança para sobreviver com um salário que não condiz com o métier de “mestre”.
   Por fim, por que não criar mais vagas nas universidades públicas ao invés de ofertar vagas em faculdades particulares?  Por que criar cotas raciais e socioeconômicas? A resposta é simples, porém dolorosa: essas políticas trazem retorno mais rápido e saem mais barato. Investir na educação de qualidade sai caro e não é interessante para o governo brasileiro.
   Afirmo, sem pestanejar, que essa política de "igualdade social" é a forma mais rápida de se fazer justiça, porém não será - no longo prazo - a mais eficiente. Quem defende esse modelo não conhece, na prática, o que é a escola pública no Brasil.  Nunca passou por uma nem como estudante nem como professor. E, se passou, não teve a dignidade de olhá-la com criticidade, como quem quer o crescimento do Brasil e de seu povo. Fazer justiça social é garantir uma educação pública e de qualidade desde o ensino fundamental. É garantir que qualquer um: pobre, rico, negro ou branco consiga escrever sua história baseada na meritocracia e não na injustiça.
                                                                      Por: Lidiane Pereira
                                                                   Jornalista pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e estudante de História na Universidade Estadual do Ceará (Uece), sem vínculos com veículos de Comunicação e sem partido político!