Sou filha de pobres (um soldador
e uma dona-de-casa), mas nunca fiz da minha situação social muleta para
conquistar o que eu queria. Conheço várias pessoas da minha geração que, assim
como eu, venceram por mérito. Na época, não havia ProUni nem política de cotas
raciais. Mas sempre houve janelas para
quem quis mudar o roteiro da sua vida.
Não vou dizer que o caminho foi fácil, mas as oportunidades sempre
estiveram lá.
Sim, era preciso ir contra um
sistema excludente. Era preciso estudar sozinho em casa, pois os alunos dos
colégios particulares eram melhores preparados. Sim, era preciso ler livros em
bibliotecas públicas, enquanto os filhos dos ricos ganhavam livros de presente
dos pais. Era preciso entender de cultura lendo os exemplares das revistas
assinadas pelo colégio, enquanto os filhos dos ricos tinham várias assinaturas
à disposição deles.
Realmente, as coisas mudaram. E
eu fico feliz por isso. Fico feliz por saber que há mais vagas no ensino
superior, há mais pobres nas universidades e nas faculdades. No entanto, o que
me faz ser contra a política de cotas é que ela reforça um preconceito. É como
se, sem elas, um pobre ou negro não tivesse condições de “construir uma
carreira de sucesso”, “de estudar numa universidade pública”.
Além disso, o ProUni, por
exemplo, preenche a lacuna de dar acesso ao ensino superior , mas não garante
que esse aluno sairá de lá um profissional qualificado. E isso não é culpa de
quem é beneficiado pelo programa. Afinal, grande parte das pessoas que termina
o Ensino Médio não sabe, ao menos, ler e escrever corretamente. E essa é a
minha grande tese: só haverá justiça social no Brasil se melhorarmos a educação
como um todo.
Mais do que dar acesso aos alunos
de escolas públicas a faculdades particulares, é preciso melhorar o ensino
público. Isso significa melhorar o ensino infantil, o ensino fundamental e o
ensino médio. É preciso valorizar a carreira de professor, dar condições de
trabalho a essas pessoas que têm uma responsabilidade tão grande nas costas. Nossos
professores não são ruins. Eles são muito bem preparados. Eles saem da
universidade com todo um idealismo, sonhando em dar a sua contribuição para uma
educação melhor no Brasil. Quando entram em sala de aula, eles têm que encarar
turmas abarrotadas de alunos, crianças que só vão para aula para receber o
benefício do “Bolsa Família”, um programa educacional pouco atrativo e muitas
cobranças. Cobrança para “fazer mais com menos”, cobrança para não reprovar os
alunos e cobrança para sobreviver com um salário que não condiz com o métier de
“mestre”.
Por fim, por que não criar mais
vagas nas universidades públicas ao invés de ofertar vagas em faculdades
particulares? Por que criar cotas
raciais e socioeconômicas? A resposta é simples, porém dolorosa: essas
políticas trazem retorno mais rápido e saem mais barato. Investir na educação
de qualidade sai caro e não é interessante para o governo brasileiro.
Afirmo,
sem pestanejar, que essa política de "igualdade social" é a forma
mais rápida de se fazer justiça, porém não será - no longo prazo - a mais
eficiente. Quem defende esse modelo não conhece, na prática, o que é a escola
pública no Brasil. Nunca passou por uma
nem como estudante nem como professor. E, se passou, não teve a dignidade de
olhá-la com criticidade, como quem quer o crescimento do Brasil e de seu povo.
Fazer justiça social é garantir uma educação pública e de qualidade desde o
ensino fundamental. É garantir que qualquer um: pobre, rico, negro ou branco
consiga escrever sua história baseada na meritocracia e não na injustiça.
Por: Lidiane Pereira
Jornalista pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e estudante de História na Universidade Estadual do Ceará (Uece), sem vínculos com veículos de Comunicação e sem partido político!
Belo texto Lidi. Sem dúvida, escorar em muletas é mais fácil, não requer esforços. O grande 'barato' da vida, são os desafios que aparecem no meio do percurso, em busca da realização dos nossos sonhos.
ResponderExcluirAcredito e muito nessa frase: Se eu não pensar, quero a qualquer custo, não conseguirei nada.
Um grande abraço e parabéns pelo Blog e texto.
Julio Leone