Foram férias curtas. Férias
diferentes. Voltar à sua cidade natal como “turista” e explorá-la como não se
fazia há tempos é uma experiência única, que alegra e frustra.
Nesses dias de ócio em Fortaleza,
precisei resolver muita coisa (dessas burocráticas). E, assim, se iniciou a
minha peregrinação. Precisei andar de ônibus, táxi, mototáxi, ônibus intermunicipal
etc... Eu não andava de ônibus aqui há anos, mas – dessa vez – não consegui
escapar. Isso não quer dizer que andar de ônibus é a pior coisa do mundo. Pelo
contrário, eu até gosto. Mas ser destratada por motoristas e cobradores mal
educados não é nem um pouco agradável.
De repente, aquela máxima que nós
(classe média intelectual) tanto repetimos parece ser um pouco ufânica e
mentirosa: “ah, mas Fortaleza é um lugar maravilhoso para se morar. Nossa terra
é um lugar de gente hospitaleira”. Sejamos sinceros: somos hospitaleiros com
quem é de fora, com quem se hospeda na Beira-Mar, conhece o Mercado Central,
vai ao Beach Park e acha que o Cumbuco fica em Fortaleza.
Não somos educados com nós
mesmos! Fui destratada por cobrador ao questionar se o ônibus fazia a rota do antigo
Paranjana. “Eu não sei qual era a rota do Paranjana”, respondeu um trocador
rabugento e mal-amado. Um outro motorista corria desesperadamente
(provavelmente atrasado), enquanto os passageiros tentavam se equilibrar em pé.
Sobre os taxistas do Ceará, uma velha
constatação fez-se verdade: temos os piores taxistas do Brasil! Os mais brutos
e grossos. Sofri tentativa de extorsão por três taxistas, que retrucaram com
ignorância ao ter que fazer um percurso sugerido por mim e que sairía mais
barato. Um deles, após ser contrariado a respeito do trajeto, correu a mais de
80km/h colocando em risco a minha vida e a da minha irmã.
Outra decepção, e
talvez a pior de todas, foi quando tive a necessidade de utilizar os serviços
públicos. Fui a uma agência da Caixa
Econômica num bairro da periferia. Eu entendo que muitos concursados da Caixa
devem ter raiva de trabalhar em regiões mais pobres. No entanto, isso não os dá
o direito de destratar as pessoas.
No banco que leva a grande bandeira do Governo Federal,
esquece-se do básico: de tratar as pessoas com cidadania, de reconhecê-las como
seres humanos. Nessa agência da periferia, o gerente me olhou de maneira
irônica, dizendo que eu fosse para outra agência, pois ele não podia resolver o
meu problema. Numa agência da Aldeota, fui bem recebida, bem tratada e esperei
sentada (ao contrário da enorme fila que havia na outra unidade).
Não quero dizer com tudo isso que a minha cidade é a pior do
mundo. Ela é sim uma das melhores. Mas ainda temos muito a aprender sobre
cidadania. Por que o mesmo banco tem tratamento diferenciado de acordo com o
bairro? Para mim, o dinheiro do pobre é o mesmo do rico. Por que as pessoas que
andam de ônibus não têm o direito de serem bem tratadas? Por que esse abismo
tão grande entre a Fortaleza do turista, a Fortaleza da elite e a Fortaleza do
pobre?
Minha mãe diz que está acostumada. E eu me revolto com isso.
Acho que não devemos nos acostumar a sermos tratados com descaso. Não devemos
encarar um serviço bancário como um favor, não podemos ser extorquidos e
ficarmos calados. Independente de escolaridade, bairro e dinheiro, somos
cidadãos.
Sinceramente, sonho morar em outro país. Acho que esse desrespeito com os cidadãos é no Brasil todo, não só em Fortaleza. Creio que aqui o valor dado ao dinheiro é bem maior que a real importância dele.
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