segunda-feira, 27 de maio de 2013

Das saudades e frustrações de reencontrar (ou redescobrir) a minha velha Fortaleza


Foram férias curtas. Férias diferentes. Voltar à sua cidade natal como “turista” e explorá-la como não se fazia há tempos é uma experiência única, que alegra e frustra.

Nesses dias de ócio em Fortaleza, precisei resolver muita coisa (dessas burocráticas). E, assim, se iniciou a minha peregrinação. Precisei andar de ônibus, táxi, mototáxi, ônibus intermunicipal etc... Eu não andava de ônibus aqui há anos, mas – dessa vez – não consegui escapar. Isso não quer dizer que andar de ônibus é a pior coisa do mundo. Pelo contrário, eu até gosto. Mas ser destratada por motoristas e cobradores mal educados não é nem um pouco agradável.  

De repente, aquela máxima que nós (classe média intelectual) tanto repetimos parece ser um pouco ufânica e mentirosa: “ah, mas Fortaleza é um lugar maravilhoso para se morar. Nossa terra é um lugar de gente hospitaleira”. Sejamos sinceros: somos hospitaleiros com quem é de fora, com quem se hospeda na Beira-Mar, conhece o Mercado Central, vai ao Beach Park e acha que o Cumbuco fica em Fortaleza.
Não somos educados com nós mesmos! Fui destratada por cobrador ao questionar se o ônibus fazia a rota do antigo Paranjana. “Eu não sei qual era a rota do Paranjana”, respondeu um trocador rabugento e mal-amado. Um outro motorista corria desesperadamente (provavelmente atrasado), enquanto os passageiros tentavam se equilibrar em pé.

 Sobre os taxistas do Ceará, uma velha constatação fez-se verdade: temos os piores taxistas do Brasil! Os mais brutos e grossos. Sofri tentativa de extorsão por três taxistas, que retrucaram com ignorância ao ter que fazer um percurso sugerido por mim e que sairía mais barato. Um deles, após ser contrariado a respeito do trajeto, correu a mais de 80km/h colocando em risco a minha vida e a da minha irmã.
Outra decepção,  e talvez a pior de todas, foi quando tive a necessidade de utilizar os serviços públicos.  Fui a uma agência da Caixa Econômica num bairro da periferia. Eu entendo que muitos concursados da Caixa devem ter raiva de trabalhar em regiões mais pobres. No entanto, isso não os dá o direito de destratar as pessoas.

No banco que leva a grande bandeira do Governo Federal, esquece-se do básico: de tratar as pessoas com cidadania, de reconhecê-las como seres humanos. Nessa agência da periferia, o gerente me olhou de maneira irônica, dizendo que eu fosse para outra agência, pois ele não podia resolver o meu problema. Numa agência da Aldeota, fui bem recebida, bem tratada e esperei sentada (ao contrário da enorme fila que havia na outra unidade).

Não quero dizer com tudo isso que a minha cidade é a pior do mundo. Ela é sim uma das melhores. Mas ainda temos muito a aprender sobre cidadania. Por que o mesmo banco tem tratamento diferenciado de acordo com o bairro? Para mim, o dinheiro do pobre é o mesmo do rico. Por que as pessoas que andam de ônibus não têm o direito de serem bem tratadas? Por que esse abismo tão grande entre a Fortaleza do turista, a Fortaleza da elite e a Fortaleza do pobre?

Minha mãe diz que está acostumada. E eu me revolto com isso. Acho que não devemos nos acostumar a sermos tratados com descaso. Não devemos encarar um serviço bancário como um favor, não podemos ser extorquidos e ficarmos calados. Independente de escolaridade, bairro e dinheiro, somos cidadãos.