sábado, 10 de junho de 2017

As representações do amor romântico nas redes sociais e o distanciamento das relações cotidianas



Inicio este texto com um conceito do historiador cultural, Roger Chartier, para quem as “representações não são discursos neutros: produzem estratégias e práticas tendentes a impor uma autoridade, uma deferência, e mesmo a legitimar escolhas.” Assim, é preciso compreender que toda representação é uma escolha, consciente ou não.

Dito isso, volto para uma cena que surge na minha frente diariamente. Estou aqui zapeando pelo Facebook quando, de repente, aparece um vídeo de uma página romântica dizendo: “o casamento mais lindo do mundo”, “a melhor declaração de amor”, “o sim mais emocionante”.

A construção da imagem é quase sempre a mesma: uma música romântica e linda de fundo, uma luz quente, a noiva entrando em segundo plano e, lá na frente, um noivo sorridente, com voz serena, lendo um texto lindo, declarando que aquela mulher é tudo aquilo que todas nós sonhamos ser: a mulher perfeita, a companheira ideal, a pessoa sem a qual a vida dele não teria sentido.

É tanto exagero, é tanta mágica, que nós caímos no choro. De repente, toda a construção do amor romântico volta à nossa mente e desejamos, profundamente, um dia estar no lugar daquela mulher. Sentimos, é verdade, uma pontinha de inveja. O que será que ela tem que nós não temos? Por que ela merece a perfeição e nós não?


A declaração acaba, a noiva em lágrimas abraça o amado e o vídeo chega ao fim. Aquela decepção por não vivermos algo assim, ao contrário, continua. Lá vamos nós para as nossas relações reais, cheias de imperfeições. E nada basta. Nada chega perto daquele sonho romântico e idealizado, nada chega perto de uma representação irreal construída no nosso imaginário. Vamos nós, com nossas inquietudes, desejando algo que inexiste e que foi alimentado por uma indústria que lucra com isso: vender a representação de um amor pleno, perfeito e cristalizado. 

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