Há algum
tempo, um assunto vem me incomodado. Eu não tenho filhos, mas as minhas amigas
têm. E, por coincidência, quase todas são mães de meninas! Então, como “tia
postiça”, sou convidada constantemente para festas de aniversário de crianças
do sexo feminino. E a inquietação aparece na hora de comprar o presente.
A maioria das
opções disponíveis de brinquedos para meninas se resume a: bonecas no estilo “bebê”,
coisas relacionadas ao lar ou kits de beleza. Na seção dos meninos, você
encontra jogos, carrinhos, super-heróis e Legos. Nada contra gerar
identificação com as crianças em relação a ser mãe, a cuidar de uma casa ou a ser
vaidosa. Mas, por qual motivo, não há super-heroínas na prateleira feminina?
Por qual motivo o ferro de passar de brinquedo é rosa e só está disponível na
nossa seção?
De cima para baixo: aspirador da Barbie, um bercinho, um mini-mercado, um kit para passar roupas, um carrinho de compras com frutas, kit beleza, jogo de xícaras, kit papinha de bebê etc...
Por que, desde
crianças, somos condicionadas a aceitar que o nosso papel é ser mãe e cuidar da
casa? Por que temos que aceitar que nossas filhas sejam obrigadas a seguir um
padrão de moda e vaidade desde cedo?
Fico me perguntando quais caminhos as minhas amigas estão traçando para dar
às filhas o direito de escolha. Fico me perguntando como as mulheres que não
são minhas amigas estão criando seus filhos homens para que não sejam machistas e que respeitem uma mulher, independente das escolhas que ela fizer
ao longo da vida.
Como fazer um
menino entender que ele pode varrer uma casa e não ser menos viril quando
adulto? Como mostrar para as meninas que existem super-heroínas, e não apenas
super-heróis? Como desconstruir em nossas mentes o mito de que, enquanto
mulheres, precisamos de um homem para resolver todos os nossos problemas?
Tento não
colaborar para a continuação de alguns paradigmas. Tento dar brinquedos que
quebrem essa lógica. Quando criança, eu adoraria ter tido um Lego (não essas
versões de princesa, mas um tradicional mesmo). Lembro que a minha melhor amiga
tinha um irmão homem e ele colecionava esse tipo de brinquedo. Quando ele
estava distraído com outras brincadeiras, a gente aproveitava para brincar de
Lego. A gente teve acesso, de certa forma, a um universo que não nos foi
oferecido. E isso não nos fez menos femininas.
Acredito até
que muitas das nossas frustrações poderiam ter sido evitadas se a gente tivesse consciência mais cedo sobre o nosso papel enquanto mulher e sobre a
possibilidade de fazermos escolhas, mesmo com a tradição e com a sociedade nos mostrando
um caminho já definido.
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