quarta-feira, 20 de abril de 2016

Não queira nos reduzir a um estereótipo

“Bela, recatada e do lar”. Foi assim que a revista “Veja” definiu Marcela Temer, esposa do vice-presidente do Brasil Michel Temer. Posicionamento político partidário à parte, eu não poderia deixar de escrever sobre isso.

Em pleno ano de 2016, sermos categorizadas como “belas, recatadas e do lar” e mulheres que não se enquadram nessa definição é, no mínimo, motivo de reflexão. Afinal, essa afirmação traz, nas suas entrelinhas e na leitura do restante da matéria, um conceito de “mulher perfeita”, que faz o homem sentir-se um “sujeito de sorte” perante os demais. Mas que mal há nisso?

O problema não está na afirmação. Ele está na negação, está na imposição de um “status quo”, está no negligenciamento da pluralidade da nossa sociedade, está no cerceamento do nosso direito de escolha de sermos o que quisermos. Esse posicionamento revela aspectos perigosos da nossa sociedade e de como isso pode ser cruel.

Muitas mulheres passam a vida sendo cobradas e se cobrando, sempre em busca de um padrão estabelecido de “beleza, sucesso e felicidade”. E isso não é coisa do passado. Segundo dados do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (Pro-Aim), o suicídio foi a segunda maior causa de mortes entre mulheres de 15 a 29 anos na cidade de São Paulo no ano de 2014.

De acordo com o médico psiquiatra Teng Chei Tung, em entrevista ao G1, “nas grandes cidades, a mulher tem mais chance de ter depressão, pois o estilo de vida urbano é sobrecarregado. A pressão é muito grande. A mulher tem de cuidar da casa, dos filhos e trabalhar”.

Além disso, somos bombardeadas diariamente por ideais de beleza e de vida. Enquanto alguns lucram milhões com isso, outros amargam grande frustração por não conseguir se enquadrar nesses padrões. O psiquiatra Augusto Cury, antes mesmo da explosão de “celebridades do Instagram”, fez um alerta sobre essa ditadura da beleza. “Os homens controlaram e feriram as mulheres em quase todas as sociedades (...). Agora, eles produziram uma sociedade de consumo inumana, que usa o corpo da mulher, e não sua inteligência, para divulgar seus produtos e serviços (...). Esse sistema não tem por objetivo produzir pessoas resolvidas, saudáveis e felizes; a ele interessam as insatisfeitas consigo mesmas, pois quanto mais ansiosas, mais consumistas se tornam”. (Trecho retirado do livro “A ditadura da beleza e a revolução das mulheres”).


Assim, mais do que estabelecermos outros estereótipos para seguirmos, é importante que deixemos claro que não pertencemos a nenhum. Somos o que quisermos ser, da forma que acharmos conveniente. 

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