Fiquei, por algum tempo, questionando-me se deveria postar algo a respeito. A verdade é que não consigo me omitir diante de tamanha barbaridade e falta de empatia, não só dos 30 estupradores, mas dos milhares que reproduziram o vídeo da violência sexual e conseguiram se excitar ao ver tais cenas.
Como a própria vítima sintetizou, é algo que "dói na alma". Dói na alma ver uma menina sendo estuprada, dói na alma ver homens compartilhando isso, dói na alma ver pessoas a julgando por ter envolvimento com drogas (algo que para muitos legitima o fato dela ter sido violentada). Dói na alma vivermos numa sociedade em que somos vistas como objeto.
A cada 11 minutos, uma pessoa é estuprada no Brasil, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Só em 2014, foram ao menos 47.646 casos. Mas esse número pode ser bem maior. Segundo a organização National Crime Victimization Survey, apenas 35% das vítimas registram ocorrência. Afinal, tudo o que elas querem é esquecer as lembranças de algo tão doloroso.
Além de punir os culpados e discutir a omissão da grande mídia nesse caso, devemos refletir sobre a cultura do estupro instaurada no Brasil. Devemos lutar para que as mulheres sejam vistas como seres humanos e não como objetos. Devemos discutir o fato de que 26% dos homens acreditam que uma mulher que veste roupas curtas merece ser acatada (dados do IPEA). Precisamos conversar sobre os valores que estamos repassando para as outras gerações. E não falo apenas sobre os homens. Falo também sobre as mulheres. Muitas mulheres reproduzem esse discurso e ajudam na perpetuação do machismo no País.
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